Entrevista com o radialista Batatinha

17-05-2011 08:05

 

Irreverência, polemica e autenticidade. Essas são as principais marcas do radialista Aloilton Ferreira Dantas, mais conhecido como Batatinha. Ele apresenta o programa “As broncas do Batatinha” que vai ao ar das 5h as 7h da manhã na rádio Nova Salvador FM juntamente com os radialistas Urandir e Todo Doce. Fomos recepcionados na sede da emissora e os comunicadores falaram de suas trajetórias antes do rádio.

 

Como começou a carreira do Batatinha?

- Começamos na década de 80, mas eu entrei no rádio por acaso. Eu era conhecido como Nem e depois como Nem batatinha no bloco Muzenza e me convidaram para ser relações públicas e surgiu essa oportunidade. Comecei a equipe com Sergio, Neuzinha, Alipia, e aí veio Todo Doce e Urandir. Desse recheio todo de pessoas só sobrou três. Fizemos um trabalho para queimar nossa carne com as nossas próprias banhas. Eu e Urandir começamos a treinar boxe. Uma pessoa queria bater em nosso amigo e eu quebrei essa pessoa na pancada porque estava procurando confusão na rua por causa de Valnei Ribeiro.

 

Ele ficou impressionado ele estava apaixonado pela menina e ele tinha contatos com músicos. Na época eu era padeiro e me disse rapaz vamos ali. Ele me levou em Amaralina na casa de um pessoal e conheci Pedro Santiago, Baby Santiago, Kátia Guzzo da TV, Sarajane. Eu fiquei com medo tinha gente importante lá e eu não sabia como me comportar. Sempre eu fui Gaiato e o cara disse que eu era o maior compositor da Bahia. Cantei uma musica do Muzenza sendo que eu nunca fui cantor e a galera curtiu. Foi aí que surgiu o interesse por parte de alguns empresários para colocar a musica afro nas rádios. Uma vez estava no Alto do Gantois com Pedro Santiago e ele me levou para rádio e acabei me desentendendo com um tal de “da China” e nessa confusão eu entrei na casa de Mãe Menininha do Gantois. Ela disse na ocasião que existia uma estrela que não vai se apagar e eu não entendí absolutamente nada na época. Esse cara me levou para uma rádio e vi aquela mesa de som cheia de botões e achei que era uma aeronave. Comecei contra a minha vontade no rádio e ser operador de som e na época era mais difícil porque mexíamos com vinil, cartucheira e fita rolo. Hoje tudo programado no computador é bem mais fácil. Foi daí que eu comecei a participar com 30 segundos, 1 minuto, meia hora e até quatro horas. Faço o programa para o povo eu quero ajudar eles e tenho a minha obrigação de levar a informação com precisão e interatividade. Basicamente comecei no meio musical até chegar até aqui.

E a união com Urandir?

- Quando eu cheguei a Rádio Itaparica FM foi em 1987 foi um momento de dor e aflição na Policia Militar. Houve um movimento na época do Coronel Mesquita houve uma troca de comando. Era proibido todo nos trabalhávamos e não tínhamos o reconhecimento da sociedade. Fazíamos o nosso trabalho, prendíamos os marginais e não podíamos falar na imprensa e eu me rebelei contra isso. Batatinha me convidou para gente engrenar o programa na Itaparica. Nós conversamos praticamente a madrugada toda lá na Avenida Candeias, na rua. Nós nascemos no bairro da Liberdade e moro na rua Darcy Vargas e me orgulho muito disso. Moro até hoje lá e não podemos olhar a Liberdade e a Avenida Peixe como um local onde só há marginalidade. As pessoas que vêm do gueto, do bem sempre crescem e aqueles que vão para o caminho do mal, da droga sempre morrem, infelizmente. Estamos aqui pra ajudar e instruir as pessoas. Estamos trabalhando para pedir também a volta de cursos profissionalizantes porque é a solução para o negro, pobre e da periferia.

 

A educação aqui é defasada, mas, é a solução. Essa é a nossa parcela de contribuição nesse programa. Sou pai de cinco filhos e dois saíram da universidade, tenente da policia Militar e eu digo sempre a eles que a melhor coisa que você tem na sua vida é a sua dignidade, sua honra e a sua moral. Sofremos preconceito e é por isso que eu luto junto com aqueles que precisam: Rodoviários, moto-taxistas dentre muitos.

Batatinha, vocês sofrem muita discriminação?

- Se a gente dá uma porra aqui todos falam. Se é Faustão falando porra na Globo ninguém fala nada. Se for um negão que chega aqui na rádio ninguém fala nada e aguarda na recepção. Se fosse um branco receberia até cafezinho. A exclusão existe e o preconceito é imenso. Se for preto, da periferia, pobre é doente ou infectado. É perigoso e complicado o trabalho que a gente faz. Já sofri ameaças e atentados e tenho marcas no meu corpo. Ninguém vai tirar a minha fé e a vontade de ajudar o meu povo graças a Nossa Senhora da Conceição da Praia que fiz essa promessa a ela. Sou persistente e chego sempre cedo no meu horário chego às 3h da manhã, duas horas antes para garimpar as informações. Sejam persistentes e não desistam nunca porque vocês vão sofrer ameaças, desprezo, insensatez e erga sua cabeça não falem mal de ninguém. E se falarem, mande tomar é no rim.

 

 

- Qual o Segredo desse sucesso todo?

Querem saber o segredo? A Humildade, o caráter, o companheirismo e a verdade. Nunca  use a capacidade que você tem para o mal. Nunca queira alcançar uma coisa sem se projetar. O projeto das Broncas do Batatinha mesmo, foi um desafio e eu voltei para pegar a audiência do passado. Anteriormente, as crianças ouviam e gostavam da molequeira da época. Hoje já mais maduros sabem das coisas e entendem a mensagens passadas e hoje são meus fãs. Pesquiso muito as rádios do Brasil e do mundo para eu me atualizar cada vez mais.

Urandir, complementou:

- Trate as pessoas como deveriam ter passados. Tem gente que me questionam lá na Liberdade que falam que enalteço as ruas Belo Oriente, Darcy Vargas, rua do Céu, Eusébio de Queiróz e Avenida Peixe. Os ouvintes sempre nos abraçam e agradecem porque falamos a linguagem deles. Não estão preocupados se estamos com dinheiro e vamos para Paris ou Nova Iorque. Estamos para ajudar as pessoas, aqueles necessitados e à medida que eles melhorem as nossas vidas também vão melhorar. Temos essa parceria com Marcos Medrado e seu filho Diogo Medrado que não tiram uma vírgula do que nós estamos aqui a dizer. A orientação dos dois é aqui o interesse maior é primeiro o povo, segundo o povo, terceiro o povo e logo depois o povo. Lutem e nunca desistam para conseguir seus objetivos. A palavra convence, e o exemplo arrasta, viver sem perigo é triunfar sem glória.

Consulado Social